quarta-feira, 21 de abril de 2010

O que se tornou a MTV?




Quem acompanhava a MTV algum tempo atrás ja deve ter percebido que sua programação não está nos seus melhores dias. Os programas não estão lá tão criativos, os VJ's não estão lá tão engraçados, não usam piadas tão inteligentes, e o pior, apelam para a crítica do trabalho de antigos colegas. Eu sei que as vezes criticar é muito bom, e até construtivo (porque não), mas usar isso como tática desesperada para atrair a atenção dos telespctadores é demais.

Por exemplo, eu gosto do Carlinhos e do Vinícius (Mano Quetinho e Mano Mendigo, lembram?), mas não aprovo a forma com que eles se referem a antiga emissora, ta certo que para entrar no Pânico na TV você não precisa ser nenhum Einstein, basta apenas um bom par de silicones nos seios, um bumbum mutante que também recebeu as tais próteses e roupas microscópicas (que de preferência tire o valor que lhes resta e façam os homens lhe enxergarem como Picanha num churrasco). Mesmo assim eles não podiam agir dessa maneira, é como cuspir no prato que comeu.

Mas voltando a MTV, não poderia deixar de falar sobre esses novos hits tocados e mostrados nos programas, tá, eu sei que o número de desinterias musicais tem crescido assustadoramente em relação ao número de pessoas realmente talentosas, mas eu não me conformo, nunca me conformarei.Onde estão os antigos clipes? Onde estão os Guns N' Roses, Led Zeppelin, Pink Floyd?E os Beatles?Onde estão os bons clipes nacionais?O Rappa, Rita Lee, Skank, Os Paralamas?Por que nós temos que ouvir, Nx Zero, Fresno, Rosa de Sarom, Bonde da Stronda e um monte dessas porcarias de Emos insuportáveis? Por que?Por que? Por que???!!!

E os VJ's? Antes falar da Maddona e seu narcisismo escancarado, Britney e suas baixarias, os Emos e seus hits sem substâncias e a roubalheira do Planalto, era no mínimo instigante, mas agora o que eles fazem mesmo é dedicar seu tempo (e tomar o nosso) a falar piadas infames e sem graça e criticar antigos colegas. É ai que você vê como o ser humano se torna muita das vezes deplorável incapaz de aceitar a ascenção pessoal e profissional do próximo. Acreditam que eles até fizeram um Top Five de antigos VJ's que se deram bem em outras emissoras? Se não me falha a memória os nomes eram: Fernanda Lima(que conquistou um espaço maior na telinha, ganhou notoriedade, e o melhor, é mulher de Rodrigo Hilbert), Zeca Camargo (Preciso nem falar né? O único defeito é ser Global, mas ninguém é perfeito), Marcio Garcia (Outro que não consegue cortar o cordão umbulical com a Central Globo de Porcarias, mas querendo eu ou não, também conquistou seu espaço), André Vasco (conseguiu seu próprio programa no SBT, mesmo não sendo o recorde de audiência do horário) e Marcos Mion (que surpreendeu a todos passando para a emissora do Bispo conversador, e ainda levando consigo nomes como João Gordo, o escroto do punk rock). E falando em Marcos Mion, este sim, foi a maior vítima da língua ferina dos atuais VJ's inconformados, Dani Calabresa e Bento sei lá de que, do programa Forum MTV, que dedicaram grande parte do seu tempo no ar para falar, criticar, esfolar, descascar o tal Mion como uma banana verde. Não sou a defensora do Mion, mas também acho a inveja um sentimento muito feio. E os seus argumentos contra o cara não foram nada convincentes. Eles criticaram o fato do programa ser um pouco engajado, das piadas não falarem tanto em sexo, de não ter tanto palavrão (acreditem se quiser, João Gordo sem palavrão), criticaram até as 6.000 árvores plantadas por Mion e sua trupe. Bom, eu achei uma atitude muito nobre. Eu admito que a estréia do programa não foi tão boa ou impactante como eu esperava, mas também não está tão ruim como eles dizem.

Mas a maior das minhas revoltas, o apogeu das minhas insatisfações se deu quando assisti pela primeira vez o programa substituto do ''É Tudo Improviso'' antes transmitido pela MTV e agora exibido na Band nas férias do ''CQC - Custe o que Custar''. O nome do tal programa faz juz a sua qualidade (ou baixa qualidade), se chama ''5ª Categoria''. Agora, por favor me respondam, o que os fazem pensar que esse novo programa está no mesmo nível ou é superior ao antigo? Sou suspeita para falar, pois sou a maior admiradora dos caras do ''É Tudo Improviso'', eles são otimos atores, não precisam apelar e até seus erros nos fazem rir. Já os substitutos, pecam em suas piadas que são toscas e infames, apelam para a putaria e fazem tudo, menos improvisar e verdade.

Enfim, isso é a prova do fim do mundo, o Apocalipse. E ainda tem gente que diz que a Biblia é cheia de histórias da carochinha. Não sei você, mas pra mim isso é a prova concreta do Armagedom.

Por,
Thays de Souza.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A praga moderna




"O que somos mesmo, neste período pós-moderno
de que algumas pessoas tanto se orgulham, é estressados"



Nossas pestes – que também as temos – podem ser menos tenebrosas do que as medievais, que nos faziam apodrecer em vida. Mas, mesmo mais higiênicas, destroem. E se multiplicam, na medida em que se multiplica o nosso stress. Ou melhor: o stress é uma das modernas pragas. Quanto mais naturebas estamos, mais longe da mãe natureza, que por sua vez reclama e esperneia: tsunamis, tempestades, derretimento de geleiras, clima destrambelhado. Ser natural passou a não ser natural. Ser natural está em grave crise.

O bom mesmo é ser virtual – mas isso é assunto para outra coluna, ou várias. Porque, se de um lado somos cada vez mais cibernéticos e virtuais, de outro cultivamos amores vampirescos, paixões por lobisomens, e somos fãs de simpáticos bruxos em revoadas de vassouras. Mudaram, os nossos ídolos. Não sei se para pior, mas certamente para bem interessantes. Pois nosso lado contraditório é que nos torna interessantes, em consultórios de psiquiatras, em textos de ficcionistas. Também na vida cotidiana aquela velhíssima voz do instinto, voz das nossas entranhas, deixou de funcionar. Ou funciona mal. Desafina, resmunga, rosna. A gente não escuta muita coisa quando, por acaso ou num esforço heroico, consegue parar, calar a boca, as aflições e a barulheira ao redor.

O que somos mesmo, neste período pós-moderno de que algumas pessoas tanto se orgulham, é estressados. Não tem doença em que algum médico ou psiquiatra não sentencie, depois de recitar os enigmáticos termos médicos: "E tem também o stress". Para alguns, ele é, aliás, a raiz de todos os males. Eu digo que é filho da nossa agitação obsessivo-compulsiva. Quanto mais compromissados, mais estressados: é inevitável, pois as duas coisas andam juntas, gêmeas siamesas da desgraça. Porque a gente trabalha demais, se cobra demais e nos cobram demais, porque a gente não tem hora, não tem tempo, não tem graça. Outro dia alguém me disse: "Dona, eu não tenho nem o tempo de uma risada". Aquilo ficou em mim, faquinha cravada no peito.

Um dos nossos mais detestáveis clichês é: "Não tenho tempo". O que antes era coisa de maridos e de pais mortos de cansaço e sem cabeça nem para lembrar data de aniversário dos filhos (ou da mãe deles), agora também é privilégio de mulher. De eficientes faxineiras a competentíssimas executivas, passamos de nervosas a estressadas, stress daqueles de fazer cair cabelo aos tufos.

Não sei se calvície feminina vai ser um dos preços dessa nossa entrada a todo o vapor no mercado de trabalho – pois ainda temos a casa, o marido, os filhos, a creche, o pediatra, o ortodontista, a aula de dança ou de judô dos meninos, de inglês ou de mandarim , mas a verdade é que o stress nos domina. É nosso novo amante, novo rival da família e da curtição de todas as boas coisas da vida.

Que pena. Houve uma época em que a gente resolvia, meio às escondidas, dar uma descansadinha: 4 da tarde, a gente deitada no sofá por dez minutos, pernas pra cima... e eis que, no umbral da porta, mãos na cintura ou dedo em riste, lá apareciam nossa mãe, avós, tias, dizendo com olhos arregalados: "Como??? Quatro da tarde e você aí, de pernas pra cima, sem fazer nada?".

Era preciso alguma energia para espantar os tais fantasmas. Neste momento, porém, eles nem precisam agir: todos nós, homens e mulheres, botamos nos ombros cruzes de vários tamanhos, com prego ou sem prego, com ou sem coroa de espinhos. São tantos os monstros, deveres, trânsito, supermercado, dívidas e pressões, que – loucura das loucuras – começamos a esquecer nossos bebês no carro. Saímos para trabalhar e, quando voltamos, horas depois, lá está a tragédia das tragédias, o fim da nossa vida: a criança, vítima não do calor, dos vidros fechados, mas do nosso stress. Começo a ficar com medo, não do destino, eterno culpado, não da vida nem dos deuses, mas disso que, robotizados, estamos fazendo a nós mesmos.

Lya Luft
Revista Veja, 2 de dezembro de 2009.